Nessa sessão, será possível encontrar perguntas e dúvidas frequentes acerca da área de atuação da Odontologia do Sono. O intuito desse espaço, voltado para o público leigo, é prestar esclarecimentos sobre uma condição que ao longo dos anos tem aumentado, tanto em prevalência quanto em severidade, na população em geral: os Distúrbios do Sono.

Sono: o que é e qual sua importância?

O sono é um estado ordinário de consciência, complementar ao da vigília (ou estado desperto), em que há repouso normal e periódico, caracterizado, tanto no ser humano como nos outros animais superiores, pela suspensão temporária da atividade perceptivo-sensorial e motora voluntária. Trata-se de um processo ativo envolvendo múltiplos e complexos mecanismos fisiológicos e comportamentais em vários sistemas e regiões do sistema nervoso central.

São identificados no sono dois estados distintos: o sono sincronizado, ou sono NREM, e o sono dessincronizado, ou sono REM (do inglês, rapid eyes movement). O sono NREM é dividido em quatro fases ou estágios, segundo o aumento da sua profundidade. Já o sono REM caracteriza-se pela dessincronização dos potenciais (baixa amplitude e alta frequência das ondas cerebrais), episódios de movimentos oculares rápidos (daí a sigla em inglês, REM) e atonia muscular. Além disso, este estágio é denominado também de sono dos sonhos, uma vez que é o período no qual estes ocorrem.

Em um indivíduo normal, o sono NREM e o sono REM alternam-se ciclicamente ao longo da noite. O sono NREM e o sono REM repetem-se a cada 70 a 110 minutos, com 4 a 6 ciclos por noite. A distribuição dos estágios de sono durante a noite pode ser alterada por vários fatores, como: idade, ritmo circadiano, temperatura ambiente, ingestão de drogas ou por determinadas patologias. Mas normalmente o sono NREM concentra-se na primeira parte da noite, enquanto o sono REM predomina na segunda parte.

Várias funções são atribuídas ao sono. A hipótese mais simples é a de que o sono se destina à recuperação pelo organismo de um possível débito energético estabelecido durante a vigília. Além dessa hipótese, outras funções são atribuídas, especialmente ao sono REM, tais como: manutenção da homeostase, dos neurotransmissores envolvidos no ciclo vigília-sono, consolidação da memória, termorregulação entre outras.

O que preciso saber sobre o ronco?

O ronco é mais frequente nos homens e em pessoas acima do peso ideal, e geralmente tende a piorar com a idade. Situações como cansaço físico intenso e consumo de álcool ou medicamentos sedativos podem eventualmente causar ou exacerbar um quadro de ronco. Pode manifestar-se de forma branda e intermitente ou ser forte e constante. Ainda, pode estar relacionado com o decúbito dorsal (quando só ocorre dormindo de barriga para cima) ou se manifestar em qualquer posição nos casos mais severos.

O ronco nada mais é do que a vibração dos tecidos moles da garganta (faringe), localizadas principalmente entre o pálato (a “campanhia”) e a língua. Surge, durante a respiração enquanto dormimos devido a dificuldade que o ar em passar por uma via aérea superior pequena, que compreende todo o espaço desde o nariz até as cordas vocais. O estreitamento da via aérea superior pode ser devido ao relaxamento da musculatura ao redor da faringe (o que acontece ingerimos álcool ou sedativos, e durante o sono profundo quando ocorre um grande relaxamento de todo a musculatura do corpo, inclusive da faringe); excesso de tecido (hipertrofia de adenóide a amígdalas, pálato alongado, língua volumosa, e mais raramente presença de cistos e tumores na faringe) e obesidade (acúmulo de gordura ao redor da faringe).

A obstrução nasal também pode ser causa de ronco. O nariz congestionado e obstruído necessita de um esforço respiratório maior, criando um vácuo na garganta o que aproxima os tecidos frouxos da faringe, favorecendo o aparecimento do ronco. Ainda, com a respiração bucal a língua tende a se deslocar posteriormente na faringe, dificultando mais ainda a passagem do ar.

O que é Apneia do Sono?

Apneia significa “sem ar” ou “parada da respiração”. Apneia do sono significa um problema respiratório, que acontece enquanto dormimos, caracterizada por interrupções breves e repetidas da respiração (com duração de pelo menos de 10 segundos numa frequência maior que 05 episódios por hora de sono).

Existe mais de um tipo de Apneia do Sono?

Sim. Existem dois tipos de apneia do sono: central e obstrutiva. Apneia central, que é bem menos comum, acontece quando o cérebro deixa de enviar ordem aos músculos do tórax responsáveis pela respiração. Ou seja, a via aérea superior está aberta, mas o tórax não se move. Está frequentemente relacionada com problemas neurológicos e insuficiência cardíaca congestiva. Apneia obstrutiva é aquela, que apesar dos movimentos torácicos presentes, a via aérea superior (a faringe) está obstruída, colapsada. Esta é mais frequente e mais grave que a apneia central, e está na grande maioria dos casos, associada com ronco alto e contínuo durante o sono.

O que causa a Apneia Obstrutiva do Sono?

A causa da apneia obstrutiva do sono é na maioria das vezes multifatorial, sendo consequência de um colapso ou de um grande estreitamento da via aérea superior que ocorre durante o sono. O estreitamento e colapso da faringe pode ser devido ao relaxamento da musculatura ao redor da faringe (o que acontece com o uso de álcool, sedativos e durante o sono profundo); excesso de tecido (hipertrofia de adenóide a amígdalas, pálato alongado, língua volumosa, e mais raramente presença de cistos e tumores na faringe), obesidade (acúmulo de gordura ao redor da faringe) e alterações do esqueleto facial (pessoas com queixo e maxila pequenos e posteriorizados). O decúbito dorsal, ou seja, dormir de barriga para cima, pode facilitar este estreitamento da faringe em algumas pessoas.

Como é o tratamento do ronco e da Apneia do Sono?

O tratamento ideal depende do grau da apneia do sono que é verificada pelo “exame do sono” (polissonografia) e de uma avaliação individual com um médico especialista. Linhas gerais sobre o tratamento da apneia do sono:

– Nenhum tratamento medicamentoso é eficaz para a apneia obstrutiva do sono;

– Pessoas acima do peso ideal são aconselhadas a perder peso;

– Dormir de lado nos casos em que as apneias ocorrem mais em decúbito dorsal, pode ajudar;

– Evitar uso de álcool e medicamentos sedativos é aconselhável;

– Uso do CPAP ou BIPAP nasal, um aparelho usado durante o sono por onde o ar passa através de uma máscara nasal para a faringe, tem sido muito utilizado. O ar sob pressão que vem através de uma máscara colocada sobre o nariz mantém a faringe aberta, prevenindo as apneias;

– Aparelhos intra-orais (AIO) odontológicos, para usar durante o sono, podem ser indicados em alguns casos, sempre com avaliação médica prévia;

– Tratamento cirúrgico específico (adenoamigdalectomia, amigdalectomia, uvulopalatofaringoplstia, cirurgia para correção da obstrução nasal, cirurgia estética facial para correção óssea da maxila e mandíbula) pode ser realizado em alguns casos.

 

Fonte:

  • ABROS
  • Conteúdo autoral: Dr. Eduardo Machado – CRO-RS 16960